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Mostrando postagens de outubro, 2019
chegará o dia em que este grito ermo que ecoa cá dos picos de meu vão espírito me tomando a palavra em sua forma me tolhendo a frase em sua sintaxe romperá a carne qual mariposa irrompe o dia. seu voo não cantará a chuva e sua queda não matará a fome dos sapos mas ainda assim nulo de sentido lógico até se dissipar no ocaso será um grito que zé

Conto sensual

Desde que amanheceu, ainda que sem sol, percorria os olhares para as horas de ontem: lembrar de cada ação era como se eu revivesse o toque; as digitas dos dedos despelando, num tempo frio e seco, na pele macia com pelos ralos, a situação se dava pela calmaria, a rendição pelo cansaço, de forma que ocupavam-se inevitavelmente pelo comprometimento: estar ali um pelo outro era, também, estar por si, em realizar-se. Nos dedos, a firmeza do ato. Tentava relembrar outros cheiros, outros sabores, mas a memória lhe lembrava de que aquilo nunca houve antes e era tudo, tão somente, o que queria em alguém: o gosto que dura. Salivava pouco, não que não existisse motivo, mas destilava, lentamente, como predador que saboreia o imaginário até a razão desaparecer e esvaziar quaisquer espaços. Bem dentro dos olhos, conseguia sentir os pelos que se eriçavam no meio das costas: era a amostragem do envenenamento, arrepio entre as duas asas. Com as mãos muito bem posicionadas a língua