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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

A vida inteira pela frente, o tiro veio por trás

Acordei bem cedo, como de costume, para os afazeres: escovar os dentes, lavar a louça, organizar a agenda de trabalho do dia, alimentar o peixe e, enfim, fumar meu cigarro com café. Não me considerava fumante há dois anos, quando eu fumava um e outro cigarro picado, da carteira de amigos que bebiam comigo. Eu só fumava quando bebia, que era na sexta ou sábado. Ou sexta e sábado, a depender da companhia. Chamamos aqui de picado quando pegamos um único cigarro da carteira/ maço. Quando me assumi pra mim como fumante, percebi que passei a comer menos. Emagreci, apesar de sempre ter me mantido no peso recomendado e, confesso, troquei uma ou duas refeições por tabaco bem bolado e café sem açúcar. Então, café, quando pela manhã, é sempre acompanhado de pelo menos um cigarro. No jantar também. Saio sempre por volta das 07h e só retorno às 20h, o que só me possibilita preparar qualquer coisa bem não nutritiva e comer, e assistir algum programa de tevê bem degenerativo. Noutra noite, depois d

metáforas para dizer Tempo

demorou o suficiente para eu notar que a luz da botoeira do elevador se apagava à medida em que ele chegava ao meu andar, e meu lixo se decompunha, apodrecia e mal-cheirava, como a velha que, no dia anterior, contava como Casca de ovo é bom pra tudo, coloco até na comida do meu neto no ponto de ônibus. No apartamento vizinho, ouvia O tempo voa decerto de alguém que também muito viveu. Naqueles vinte minutos em que esperava, estava evidente que o tempo voava na velocidade de uma bicicleta sem rodas, guinchada por um motorista cego. Enquanto ouvia o som do maquinário velho recém-reformado do elevador do prédio antigo, agora me novo, dei-me conta de que as contas que não fiz ainda seriam, como já eram antes de chegar, o desfecho da minha vida a ensinar, como a velha, O tempo não voa porque nem pernas têm! Para saber que até chegar ao aterro sanitário, meu lixo já poderia ter criado novos organismos para ser capaz de bem alimentar como de matar, quem pairava por lá tanto qua

pūber

Era  tempo de infância ,  ou a  “ fase  do porquê”,  como se  referi a  Ana  Cecília   às suas visitas quase nunca anunciadas ,   ou agentes de saúde,  quando  estas lhe perguntavam  sobre seus filhos   Hernandes Gustavo,  João Paulo  e  Ana Beatriz ,  em  ordem cronológica de nascimento . Isso porque Ana  já estava surtando  com  as  mirabulosas   e frequentes questões  dos filhos  mais novos , principalmente as articuladas por João Paulo, que contava  sete  anos e  ainda  insistia n o hábito de querer descobrir o mundo . O menino queria saber de tudo, inclusive de si próprio, a partir do passado dos mais velhos que ,   desafortunados, preferiam mant ê-lo  intocável e oculto .   Um dia,  Vilmar, esposo de Ana Cecília e pai d as crianças ,  já   agastado com João Paulo ,  que  empreendia descobrir  por que 7 é “sete” e não “seis” ,   lhe  repreendera: “ Paulinho ,  cê  é chato demais!  Tem coisa que  é porque é” .   João Paulo,   que  só não  foi o mais chorão dentre os filhos do cas