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Mostrando postagens de março, 2019
desde miúdo quando a pequenice estava em tudo que eu tento dimensionar: quantas sacas de dúvida um homem deixa de levantar escorado em certezas absolutas de roda (?) zé

chamado às cores

as cores, todas elas precisam reaver sua feminilidade ontológica a azul nem tem vogal temática pra lhe pintarem formato de pica - de jeito maneira! - tem muito mais que ver com as águas luas mães a vida. a vermelha sempre se mostrou fácil e flexível, flertava com a azul muito antes de a terra ser e no dia em que trocaram fluidos gasosos explodiu o universo, numa tonalidade secundária - a rosa. pobrezinha da rosa... enfrenta crises humanamente identitárias ela que é toda gênese patrícia petulante feminina... sofrer da memória fragmentada em púbis zélia

Lília Anis, do 209 - 28 anos

Mais bonita que ela, só a capa do livro que ela lia. Todo dia no mesmo banco, fugindo do sol e, justo hoje, me passou os olhos, quando eu nem por mim respondia.   Como sempre busquei por respostas, não tê-las me incomoda. Irrita como o cartão verde-limão que não sei de qual banco é. Ou se é de crédito . N em mesmo se verde é a cor, porque o nível baixo não avançado de daltonismo me confunde pra amarelo e me impacienta, que me impede de ser quando se trata se cores.  Mas apascenta pensar em todas essas possíveis realizações quando percebo que desfoco o olhar no objeto. Dessa forma, m esmo sem conhecê-la, eu me sentia ignorada.  Vejam: ignorada e não inotada, do verbo “não-notar”. Tantos sinais eu dava e ela simplesmente fazia que não via  meus olhos nela. Afinal, a gente sabe que o olho do Outro, em nós, pesa o peso nos ombros . Não sabia o seu nome, sua idade ... P rovavelmente trabalhava... n essa vida sempre vamos atrás de mais dinheiro pra gastar com o que não precisamo

Trem Inverso

por quê trem em verso? Isali

Os olhos de Daniel

Naquele domingo, cansado de ter nada que fazer, me dou o direito de ficar na cama até às onze. Acendo um cigarro, caminho pelo apartamento colhendo roupas para bater, tomo um copo do café mais frio que morno preparado na tarde passada, lavo a louça e sento a bunda no sofá, de onde só saio às 14h. Depois de ter comprado e comido o almoço, volto pra cama e durmo por cerca de uma hora e meia. Acordo de pau petrificado e cueca molhada. Desde o dia anterior sentia uma volúpia que, indubitavelmente, chegara ao estágio da transpiração. Ainda lembro do sonho responsável por aquilo que beirou se tornar uma polução diurna. Éramos três, aninhados no pasto da frente da casa que me viu crescer, na fazenda. Eu e um deles nos atracávamos na grama, num sexo espiado por estrelas já mortas naquele céu enorme de interior. Tão enorme quanto as metafantasias que despontam do inconsciente humano. Rodávamos de desejo naquele chão cru, numa depravação a qual nunca havia me permitido antes. O outro, que podia

SE

Se pudesse te pedir uma última coisa pediria que pensasse mais em você mesmo, Que andasse de avião, que conhecesse o mar, que tirasse férias, que esquecesse temporariamente o rebanho. Se pudesse te abraçar uma última vez não pestanejaria faria de todos os dias o segundo domingo de agosto Seríamos pai e filho novamente, como na certidão. Se pudesse apagaria da cabeça aquele seu grito de socorro, o último encontro que volta e meia aparece sem pedir licença: "Me leva pra casa, meu filho" Desobediente, não atendi seu último pedido. A vida é como o triturador no paiol, meu pai – transforma a cana em ração e a ração em fezes – e não há voltar atrás Se houvesse, me pouparia dessas condições. zé

FORTUNA

Minha mãe deu luz a três meninos e uma menina, se é que. Os dois primeiros – incluso eu – trabalharam o parto da roça até a cidade – lembro daquilo Era uma precariedade danada aqueles dois... meus pais,  flores em desabrochamento brincando de casinha. Foi penoso pra todo mundo aquela condição de secura e poeira alta não à toa as memórias desse tempo precisarem ser dessecadas. As lembranças da chácara de Campinorte arrefeceram. Resistem as do pé de jaca, de seriguela, jambo, os vários de manga, da BR a um quilômetro de casa, da noite escura escura escura e o retinir dos caminhões, que botavam medo . A mudança pra Jacaré ou Lages, agora município de Uruaçu, diferente, pintou-se na memória. Conservava-se ainda a poeira, a seca triste, preguiçosa, ondulante, no entanto a suntuosa serra limítrofe à casinha de adobe, mãe das águas que significavam a bica que caía debaixo das mangueiras e goiabeiras, no quintal, o ecossistema, o drama da vaca que sumiu, a sexuali

O colo de Satã

Condiciou-se chamar de pouca vergonha o meu sentir. Utilizam da chance de refletir para refletirem sobre Quantos tiros ou chutes ou facas devo tomar até que me sinta curado do desvario pecaminoso. Quando fisicamente inertes, pecadores como eu,  no alto julgamento não teremos direito à defesa. Tortos por natureza, descaíremos vulgares, sensuais e desprotegidos no colo pecaminoso de Satã  - por convenção instituído nosso genitor. Não há na terra perdição igual ou comparável  aos membros inferiores pátrios-flamejantes de Satã - lanosas as pernas, coxas e virilhas, tal como cheguei a supor. O lastro, entremeando o imaculado e o algoz,  fará regozijar as nossas almas tão ordinárias em vida. zé

"angústia" ou "um trem"

mal da angústia é a perda perda de sentido, o vácuo perda de querência, o nada perda de juízo, amnésia fazer que sim com a cabeça dizendo não angústia é nó cego e apertado, coito de cachorro, sonhos geométricos da infância, dar nome ao filho natimorto. o céu primoroso é ambíguo aos homens inferno, desgracento, certeiro só as coisas rasteiras (nos) celestam o resto são os vícios zé

poema sem título

outro dia num desses tropeços caí de cara em chão cascalhento vontade que deu foi de chorar feito criança na verdade fiquei choroso o resto do dia, agora mesmo parece eu inda choro ali no chão me ocorreu duvidar da graça, me irrompeu um sentimento metafórico de cascalho, um trem de não partir, ser pedra... o sangue escorria da testa e regava o chão e eu chorava surdamente lembrando as pedras de outros dias, de outros tropeços, sobretudo de outras estradas zé

a freud

Parecia pesadelo. O clímax do pesadelo, quando tão logo o inconsciente,  ciente, nos diz: apruma! deu ruim! No lapso de um disparo, de um susto - e sustos são disparos e vice-versa -, a gente acorda a verdade é que a gente pensa que acordou, a gente finge, a verdade é na verdade essa... porque o inconsciente, ele até volta atrás, faz com que reafundemos a cara no travesseiro, Ecoa, parece que lá de dentro,  uma voz sonolenta que diz: "eu acordei mesmo ou ainda é pesadelo?" A resposta... só no amanhecer, mas só se o amanhecer existir mesmo. A gente faz força pra que a resposta chegue, pra que o amanhecer exista, pra que a memória volte. Inconsciente tem dia que é todo déjà-vu. zé