não chegues a mim com o riso largo demais, que eu abomino o sentimento de inveja que toma conta de minha corrupta alma quando, ainda que não queiras, te mostras tão soberbo. como consegues ainda rir diante de tamanha desgraça? desculpem-me os otimistas, os positivistas, os good vibes, mas rir, agora, só se for de nervoso. e desculpa? ah, desculpa é uma ova, vai! que a minha paciência já acabou tem tempo e, se eu posso, eu vou mostrar a minha face mais bronca e malcriada por escrito, porque pessoalmente... e ninguém hoje está pessoalmente pra ninguém, ou não deveria estar, todo mundo é interpretação e polidez, a não ser, é claro, o irmão que tem que se humilhar por um prato de arroz para se manter de pé e, então, continuar se humilhando consecutivas e exaustivas vezes para então caminhar. o ministério da falsidade ideológica está em ruínas com a gente tendo que conviver vinte e quatro horas por dia consigo mesmo tout le temps! olhar pela janela essa vala que só cresce em múltiplos de sete palmos de fundura e de largura e sentir que a hora vem chegando, ou nem sentir... já que a derrota está cá posta desde que o trem surgiu há milhas e milhas de oceânico vapor! vomitaria cada uma dessas palavras sob a louça de porcelana da corte imperial nauseabunda inglesa. ah, se não fossem essas amarras que prendem-me à essa pátria tão dependente de mim! se não fosse esse ímpeto de ruir com todas essas estruturas monumentais pagas à sangue, de arrancar a cabeça do coronel e de reescrever a história e rebatizar essas avenidas com nomes de heróis da terra! eu já teria posto a minha melhor roupa e aprendido a mais clássica variedade do british english para atravessar esse ocenao a nado e ser surrupiado na terra do surrupiador. não, não chegues a mim com esse riso, que o momento do meu riso ainda não chegou

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